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sexta-feira, 27 de janeiro de 2017

Paz interior

Embora nos últimos tempos eu tenha tido uma montanha de problemas sobre as minhas costas com o bônus de uma perda irreparável e a busca incansável por um sentido para retomar a vontade de (sobre)viver, eu tenho tido alguns momentos de paz.
Vendo um filme, ouvindo uma música, cantando no karaokê ou tendo uma conversa descontraída, eu consigo me livrar de todos os pensamentos tristes que tem me acompanhado, sinto-me bem, limpa, em paz, porém até um certo limite.


Não sei se é comum se sentir assim, mas quando estou bem fico procurando motivos para acabar com esse momento de trégua, como se fosse errado eu estar feliz, como se eu não merecesse a felicidade, como se a minha mente tivesse a necessidade de estar 24h em pleno caos. Minha "voz interior" então fala:

- Por que vocês está sorrindo? Por que está nessa tranquilidade toda? Por que não está contendo a vontade de chorar? Você SABE que não deveria estar assim, isso não deveria fazer parte de você.

Parece cruel, mas traduzindo as emoções em palavras é exatamente assim. Sinto-me culpada, ingrata e confusa. Fico mal, acabo-me na tristeza que volta tão rapidamente que mal posso me lembrar como me sentira há cinco minutos.

Isso também acontece com vocês?

quinta-feira, 26 de janeiro de 2017

Carmen

Dia trinta de maio de 1998, Carmen vivia em São Paulo, tinha dezessete anos. Havia começado a faculdade há poucos meses, não sabia o que esperar do futuro e ainda não lidava muito bem com a euforia do que a maioridade poderia lhe proporcionar daqui um ano.
Carmen nunca estava acompanhada, as pessoas sempre a viam sozinha, as suas relações estreitas eram poucas e em casa limitava o contato com a família. Ela nunca estava suficientemente confortável com as pessoas e por esse motivo sempre a consideraram independente.

Presa numa incerteza sobre o que o destino reservaria a ela, Carmen permitiu-se realizar os seus desejos e descobrir o que de fato iria lhe fazer sentir-se bem consigo mesma. Em maio de 1999, Carmen resolveu sair com um rapaz que vivia lhe convidando. Ela nunca entendia o motivo do rapaz estar tão interessado por achar que ela estava completamente fora dos padrões que homens costumavam buscar nas mulheres. Carmen era enigmática, gostava de olhar nos olhos ao iniciar uma conversa e o seu senso de humor ácido não costumava agradar a todos. Intimidava muitos com a sua perspicácia. Era bonita, mas não como desejava ser. 

Dia 4 de junho ela saiu, não disse aonde iria e não estava preocupada em dar satisfação a ninguém. Carmen queria finalmente testar a liberdade prometida que supostamente viera com a maioridade. Ela já trabalhava, pagava as próprias contas e sentia-se no direito de fazer as próprias escolhas. Nesse dia Carmen iria encontrar Jimmy.

De longe Jimmy era aquele rapaz que estampava as capas dos álbuns que Carmen ouvia, de perto ele era o mesmo rapaz que estampava as capas dos álbuns piratas que Carmen se recusava a comprar. Não era bonito, não era atraente, suas ideias não a convenciam, mas ela estava ali por si própria e não haveria nenhum motivo que a faria a retornar para casa.

Conversaram, beberam uma cerveja, ela pagou a conta - não era do tipo que se importava, estavam perto do Vale do Anhangabaú, em alguma esquina movimentada com os postes iluminando as ruas. Eles estavam esperando uma boa hora para avançar. As pessoas que caminhavam em direção ao metrô os olhavam com curiosidade, seria Carmen muito nova para Jimmy? Formavam um casal bonito? Não se sabe ao certo, talvez a mistura dos dois.

- Vamos. Essa noite você vai ganhar o seu presente de aniversário de 18 anos. - Jimmy sussurrava.

Carmen e Jimmy tiveram uma noite intensa, melhor do que ela havia planejado. Ela estava satisfeita, sentindo-se independente, certa de suas escolhas e não importava com quem ela dividira esse momento, ela estava feliz em meio a sua solidão. 

Acordaram e então foram tomar um banho juntos, Jimmy era falante e Carmen apenas queria roupas limpas para vestir e um secador de cabelo. Não encontrando nada disso, disse que queria ir embora na frente, pois não estava se sentindo a vontade e precisava resolver alguns assuntos.

- Você não pode sair assim, nós não terminamos ainda - Jimmy não gostou da decisão.

- Eu decido quando devo ir. Não estou me sentindo a vontade, estou com fome, preciso voltar para casa.

Ainda no banho Jimmy agarrou o braço de Carmen.

- Nós decidimos juntos.

Carmen ficou aflita, não esperava aquele tipo de reação, pois afinal tentou se envolver o menos possível com o rapaz, estava ali por ela, não por ele, não pelos dois. Com o braço adormecido e convencida que Jimmy não soltaria tão facilmente ela começou a gritar:

- Me solta! Você não tem esse direito! Me solta! Eu vou chamar alguém, você não pode fazer isso!

Sem sucesso, Carmen agarrou uma das lâminas de barbear que estava na pia do banheiro com a mão que estava livre e sem habilidade alguma a voltou contra o pescoço de Jimmy com toda a força que pôde carregar.

O sangue escorria pelo ralo do banheiro, os dois ficaram em silêncio, ambos incrédulos sobre o que estava acontecendo. Rapidamente, Carmen se livrou das mãos do rapaz e vestiu suas roupas encarando-o a todo momento com medo de alguma reação em resposta, mas nada aconteceu. O único barulho que se ouvia era do chuveiro morno e da água colorida de vermelho cada vez mais densa.

Com as vestes sujas de sangue, ela pegou o seu documento na recepção do hotel e foi embora. Não queria que aquela história tivesse um desfecho, não para ela.

A moça de 18 anos nunca mais teve notícias do rapaz. Ele sumiu e ela não sabia o que acontecera depois do acidente. Diferente do que pensava naquela noite, Carmen tomou para si uma culpa que não deveria carregar, não conseguia mais olhar nos olhos das pessoas, estava se sentindo suja, imoral.

A qualidade de independente que tanto atribuíam a ela e que começou a carregar por este motivo tornou-se muito pequena perto da angústia que tomava conta do seu coração. Carmen estava desolada, sem ninguém para conversar sobre a sua difícil situação. Não sabia se foi imprudente ao testar a própria liberdade. Ela não sabia qual seria a melhor escolha a ser feita. O sentimento de empatia se transformou em mágoa, desde então, tudo que possuía de mais bonito e doce desapareceu.

- O que aconteceu com Jimmy? - Ela se perguntava todas as noites, mas não tinha coragem de descobrir a verdade.

É certo se arrepender por ter tomado algumas decisões às cegas? É certo se culpar desconhecendo o futuro? Quanto vale a nossa vontade de ser livre? Carmen apenas escolheu qual seria o trauma menos doloroso para carregar para o resto da vida.

26/01/2017

Os dias estão cada vez passando mais rápido sem a minha permissão, então, como eu poderia estar no controle?

quinta-feira, 12 de janeiro de 2017

A liberdade é poder descansar

Já tive um pouco de pressa e não acho certo
E quem me conhece pode confirmar
Não chegue muito perto
Mantenha distancia pra poder escapar

Todo mundo sofre de uma maneira diferente
E a minha diferença ta no modo de amar
Aquilo que é certo e o que é passageiro
Mesmo não sabendo nem diferenciar

Coisas, pessoas, incertezas, momentos
Todo mundo odeia numa mesma proporção
Tragédias, problemas, autoconhecimento
Uns escondem bem e outros fingem que não

A alma que chora é a mesma que sofre
Num dia que acorda e não vê mais o céu
A alma que ri é a mesma que sente que
A liberdade é poder descansar

Dormir embaixo de um véu, sonhar com as estrelas
E não se preocupar
         Voar, sentir que acabou,
                Cessou e não despertou.


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